Uma equipa de investigadores das universidades de Columbia e de Colónia apresentou um modelo que prevê as mutações do vírus da gripe de um ano para o outro, o que pode ser muito útil para decidir a composição das vacinas, indica um estudo publicado ontem na revista Nature.
Os cientistas analisaram quase 4.000 amostras do vírus da gripe, que afeta anualmente entre 5% e 15% da população mundial e causa entre 250 mil e 500 mil mortes, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).
A abordagem partiu de um princípio darwinista: a sobrevivência do mais apto, mesmo no reino dos vírus. Estirpes diferentes de vírus influenza competem entre si, a corrida é sobre como infectar com sucesso seres humanos. Isso levou Marta Łuksza , do departamento de Ciências Biológicas da Universidade de Columbia (EUA) e Michael Lässig do Instituto de Física Teórica da Universidade de Colónia (Alemanha), a fazer a pergunta: Será que podemos prever quais desses concorrentes vai ganhar a corrida ? "Este foi um desafio para um biólogo evolucionário , porque há muito poucos sistemas em estado selvagem para o qual as previsões quantitativas da sua evolução são, de todo, viáveis", diz Łuksza . "Foi também um desafio computacional e teórico. Enquanto o pensamento evolucionista tradicional se centra na reconstrução do passado, nós tivemos que desenvolver ideias sobre como prever o futuro. " Mais importante, os cientistas tiveram que descobrir qual a parte do sistema que pode ser, na verdade, previsto e as que são aleatórias. Na sua abordagem, usaram ideias da física e da ciência da computação.
A equipa estudou 3.944 sequências da hemaglutinina, uma proteína que se encontra na superfície do vírus da gripe e que une as células infetadas, e introduziu mutações para verificar as mudanças operadas. A partir dos resultados obtidos, desenvolveram um modelo que, por meio do estudo efetuado anteriormente, é capaz de prever quais as novas estirpes virais que podem emergir. Em concreto, a equipa detetou o aumento de algumas mutações em 93% dos casos e uma redução de outras em 76% das situações.
"Como o vírus da gripe afeta até 15% da população em cada ano, a maioria das pessoas têm um certo grau de imunidade. Contudo, sempre que surgem novas estirpes todos os anos, as mutações, que dominam o vírus iludem a resposta imunitária da pessoa contaminada", refere o estudo. As mutações aumentam com frequência, assim que se reduz o número de hospedeiros possíveis, e o processo cíclico leva a que a população viral se substituta rapidamente e torne possível que, passados uns dias, uma pessoa seja novamente contagiada com o vírus da gripe.
A variação do vírus leva a que, anualmente, se modifique a composição das vacinas contra a gripe, embora, sempre com elevado grau de incerteza quanto à sua eficácia.
27 de February de 2014 às 15:14